A HITEC 2024, realizada entre os dias 24 e 27 de junho em Charlotte, EUA, é reconhecida como a principal feira ocidental focada em tecnologia para o setor de hotelaria e hospedagem. Meu objetivo ao visitar o evento foi investigar as soluções e inovações que possam melhorar a experiência dos hóspedes e aumentar a eficiência operacional dos
hotéis. No entanto, a realidade encontrada foi um pouco diferente das expectativas. Logo ao chegar, percebi uma grande expectativa em torno de temas relacionados à IA, compartilhados por mim e por outros profissionais. Entretanto, ficou claro que, globalmente, o mercado de hotelaria ainda é um dos retardatários na adoção de novas tecnologias.
Embora algumas soluções de comunicação com hóspedes utilizando GenIA e outras de automação, como as chaves digitais da Assa Abloy que utilizam Google Wallet e Apple
Wallet eliminando a necessidade das chaves nos hotéis, e robôs para room service tenham se destacado, a presença de hoteleiros brasileiros no evento era mínima. Isso revela uma
baixa participação do Brasil em eventos desse porte, o que é alarmante, considerando a necessidade urgente de inovação tecnológica no mercado brasileiro de hospitalidade. Algumas inovações já utilizadas no varejo, como o uso de RFID para controle de inventário (enxoval), e softwares “all-in-one” para gestão hoteleira, foram destacadas, mas nada que impressione como inovação disruptiva. Cada vez mais vemos softwares propondo fazer boa parte da jornada do hóspede como uma “ferramenta única”, mas devido à complexidade do
setor, muitos softwares ainda trabalham em silos de dados e atendem demandas específicas e aí encontramos o grande dilema: as integrações entre os softwares. Nesta
perspectiva muitos serviços de integração são vendidos, mas um iPaaS para hotelaria me chamou atenção: o Aiva Connect da BluIP. O uso de IoT para automação de ações que geram economia energética, como sensores que desligam o quarto quando não há ninguém presente, e quiosques de check-in mais completos são interessantes, para o Brasil ainda escuto muito sobre a realidade que não
temos um público digitalmente educado e que eles não conseguem fazer o uso destas tecnologias. Eu discordo – faz parte da evolução e a indústria tem que fomentar essa
mudança, assim como feito pelas companhias aéreas. O evento contou com a presença de mais de 300 fornecedores de diversas partes do mundo e quase 6.000 atendentes de mais de 60 nacionalidades, demonstrando a relevância global do evento para o setor de hospitalidade. Além dos stands de fornecedores, o evento HITEC abrange uma ampla gama de tópicos focados na integração e inovação da tecnologia na hospitalidade. Sessões de palestras incluíram discussões sobre:
- Ferramentas generativas de IA, riscos e ética na hospitalidade.
- Conscientização sobre cibersegurança e governança para hoteleiros.
- Utilização de dados em tempo real para experiências de hóspedes.
- Tecnologias digitais e de nuvem para aumentar reservas e fidelidade.
- O impacto dos trabalhadores digitais na solução de desafios laborais.
- Estratégias para uso de IA nas operações de hospitalidade.
- Melhorias de segurança de TI e comportamentais.
Esses tópicos refletem a ênfase em IA, cibersegurança, e estratégias baseadas em dados, mas a aplicação prática dessas tecnologias ainda parece distante da realidade de muitos
hotéis. Entretanto, como já mencionado, ainda muito se fala, mas pouquíssimo se aplica no dia a dia.
Soluções de Check-in
As soluções de self check-in apresentadas, embora integradas e promissoras, ainda não oferecem grandes inovações. Comparado a companhias aéreas, o setor hoteleiro está consideravelmente atrasado.
Experiência do Hóspede
Ferramentas focadas na otimização da força de trabalho e a integração de IoT para operações destacam-se, mas enfrentam desafios significativos de implementação. Equipamentos que medem a internet e acionam a central de segurança em caso de emergência mostram avanços, mas ainda são exceções em um mercado amplamente resistente à inovação.
Gestão Operacional e Segurança
Soluções para gestão de energia e automação climática são promissoras, mas não inovadoras. A segurança dos dados dos hóspedes ainda é uma preocupação significativa, com a maioria das operações sendo vulneráveis. Empresas focadas em PCI, HIPAA e ISO apresentaram soluções, mas é necessário um esforço maior para detalhar e implementar
essas tecnologias. Comparando a HITEC 2024 com a realidade brasileira, a falta de fornecedores e soluções no Brasil é evidente. Muitos dos equipamentos de IoT são importados, impactando negativamente os preços e impossibilitando a inovação. Isso se reflete na mentalidade de 90% dos hotéis brasileiros, que ainda veem a tecnologia como um custo, e não como um investimento. A resistência à inovação é um obstáculo que precisa ser superado para acompanhar o ritmo global. A expectativa de encontrar soluções avançadas de IA para otimização operacional não foi atendida. A IA foi majoritariamente aplicada na interação com hóspedes, com poucas inovações significativas para operações internas. Observando os fatos e fornecedores no
evento, o problema da falta de tecnologia na hotelaria é global. No Brasil, estamos ainda mais atrasados devido a barreiras estruturais e educacionais. Para avançar, é essencial
mudar a percepção da tecnologia de custo para investimento. Para os profissionais da hotelaria, é crucial reconhecer que a tecnologia pode ser a solução para negócios mais eficientes e menos dependentes de pessoas. Precisamos começar a ver a tecnologia como um investimento estratégico, e não apenas um custo, para transformar e modernizar o setor de hospitalidade.
por Gabriel Fumagalli , CEO Xtay, a plataforma de estadias inteligentes.